Logo de manhã, estou no trabalho e sento bem de frente para as imensas janelas, onde posso ver todo um céu azul lá fora. De onde estou não posso dizer como um ser católico quase mítico: "mas que belo horizonte", quando esteve em visita à cidade, pois existem consideráveis prédios à minha frente, mas sei o que tem além e meu pensamento já está lá.
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Pronto, quando me disperso assim não adianta nem tentar me concentrar novamente com o que eu estava fazendo, preciso daquele tempo para minhas idéias correrem soltas e brincarem um pouco. Sem remorso esqueço o computador com minhas equações e fórmulas malucas, me inclino na cadeira e perco meu olhar em algum ponto no céu, desejando chuva, desejando ajuda para entender minha própria complexidade, desejando... desejar alguém...
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Nossa, repetindo tanto essa palavra, me lembro dos conceitos básicos do Taoísmo, na parte que refere-se ao desejo; para nós, ocidentais urbanos de carteirinha, é praticamente aquilo que nos move e faz desenvolver nossos instintos, e para os taoístas é exatamente o que impede esse desenvolvimento (claro, essa é a minha explicação compacta).
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É, realmente sou extremista... em algumas questões sou o impulso declarado, em outras me inclino a aceitar a versão taoísta, pois de tanto querer algumas coisas, elas acabam transformando-se em metas inatingíveis e planos colossais que eu não teria mais coragem, disposição ou até mesmo vontade de realizar/dizer ou que quer que fosse fazer. Quando percebo, no final da história eu criei um monstro...
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Uma coisa remete à outra... ontem aconteceu algo que ilustra meu monstrinho particular. E para que eu lembre disso até quando der, estava ouvindo "Leave", do R.E.M. pra 'coroar' a cena. Qual cena? Bom, era pra ser uma simples conversa entre duas pessoas crescidas, com vontades comuns, porém enigmáticas, e isso por si só já bastaria pra dificultar as coisas... o coração pedia cautela nas palavras... A cabeça pára pra pensar... As pernas esperam pra saber o que fazer... a boca entreabre-se na tentativa de explicar alguma coisa. Daqui a pouco o coração impacienta-se pelo desenrolar da história. A cabeça diz: não recomendo! As pernas? Uma vai e a outra fica... A boca gagueja. A ação coletiva dos sentidos era um desafio pra mim, praticamente uma tortura. O resultado? Bom sobrevivemos, não da forma como deveria ter sido, mas de tanto querer perdemos o momento.
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Alguém liga no meu ramal, retorno do meu momento off e percebo o céu para onde eu olhava porém não via. Então odeio o sol iluminando esta manhã onde me falta alguma coisa embora eu não tenha certeza do que seja... Por que desejei chuva? Sou um ser às avessas... Dias de sol me deprimem...
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