Qual é a sua?

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Hiato Sentimental

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Hiato Sentimental
por Dejavu


"... me abracei em suas roupas no armário
Todas elas têm o seu cheiro..."


Os Últimos

por Veríssimo


E aconteceu que Último Casal saiu da terra onde vivia e foi para o Oriente, pisando no que restava da sua espécie: carcaças e ruínas. E chegando no local onde um dia fora o Paraíso, e onde agora passavam dois rios podres em meio a terra calcinada, deitou ao chão suas trouxas e preparou-se para morrer. Pois onde tudo começara, tudo terminaria.

Fora ali, segundo sua crença, que Deus fizera o Primeiro Homem do barro e a Primeira Mulher da sua costela. Era ali que devolveriam sua alma ao Senhor. E a Humanidade desapareceria da face da Terra que ela mesma tornara estéril e inóspita.

Mas tomado de súbita revolta, o ùltimo Homem clamou aos céus, e chamou ao seu Senhor, e perguntou:


- Qual é?


E as nuvens sulfurentas se partiram e o rosto de Deus apareceu na brecha. E a expressão no rosto de Deus era de surpresa, ou de quem acordara de uma sesta.


- Está falando comigo? - perguntou o Senhor.
- Estou.
- E quem é você?
- Sou o Último Homem. Descendente do Primeiro Homem. E esta é a minha mulher.

E a expressão no rosto de Deus era de perplexidade.


E perguntou o Último Homem:


- Por que fizeste isto conosco, Todo Poderoso?
- Que foi que eu fiz?
- Nos deste o mundo, e nos mandaste povoá-lo, e tanto o povoamos que esgotamos tudo que nele havia, e decretamos nossa própria extinção. Tanto fizemos para seguir suas ordens que envenenamos a Terra, e a nós mesmos.
- Minhas ordens?!- Sim. A que deste aqui, neste exato local, aos nossos primeiros antepassados.


Deus abafou um bocejo e disse:


- Não estou me lembrando. Tem certeza que fui Eu?
- Claro - disse o Último Homem.  Está bem, foi há milhões de anos. Mas milhões de anos não são um minuto na mente do Senhor?
- Em tese, sim. Mas...
- O Paraíso, Senhor. Adão e Eva. Ele usava uma folha de parreira e ela...
- Ah! Agora me lembro. Qual foi a minha ordem?
- "Crescei e multiplicai-vos".
- Deve haver algum engano...


O Último Homem perdeu a paciência.


- Como engano? O senhor mandou, claramente, eles se multiplicarem, e encherem a Terra com sua prole, e o resultado está aqui. Só sobramos nós. Não temos mais nada para comer. Não temos mais água. A prole acabou.
- Mas eu não estava falando com eles.
- O quê?
- Estava falando com um casal de baratas atrás deles!




E mais uma vez a colaboradora deste blog coloca um post sobre baratas, como forma de extravasar seu asco por esses seres...

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Sorria, você está sendo vigiado!

Eu estava ouvindo o Arquivo dos Paralamas do Sucesso. Quando tocou a música O Beco, no trecho onde fala da liberdade vigiada, lembrei-me de um artigo escrito por um professor lá da facul sobre esse assunto. Acho o tema bastante interessante, por isso vou colocar o artigo aqui, leva à reflexão...
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As câmeras de vigilância eletrônica já se integraram de tal forma às paisagens urbanas que, na maioria das vezes, passam desapercebidas pelos transeuntes que circulam pelas grandes metrópoçes. Eles não as vêem, mas elas estão lá, vigiando-os em ruas, avenidas, praças, lojas, elevaadores, estações de metrô e até mesmo em alguns banheiros públicos.
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O pretexto, como sempre é a segurança pública: "É para a sua própria segurança", dizem os cartazes. Mas de qual tenebrosa ameaça nos defendem as câmeras de vigilância: Homicídios são comuns nas ruas das grandes cidades? Estupros são frequentes em praças públicas? Ou o governo estaria despendendo virtuosas somas de dinheiro públicopara evitar apenas pequenos furtos e atos de vandalismo?
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A História mostra que grande parte da população está sempre disposta a renunciar a alguns de seus direitos em troca de segurança. E mostra também que muitos governos estão dispostos a inflingir medo ao povo para lhe tomar direitos, em uma releitura da máxima capitalista "criar necessidades, para vender soluções".
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Em março de 2002, os Estados Unidos da América adotaram um engenhoso sistema de controle dos medos populares. Trate-se de um sistema de alertaes contra atentados terroristas que pode variar desde o verde (baixo), passando pelo azul (normal), amarelo (elevado), laranja (alto) e vermelho (grave). O sistema funciona de forma simples, mas bem eficiente: caso a mídia divulgue qualquer notícia que ameace colocar a credibilidade do governo em risco, eleva-se o nível de alerta para laranja, desviando-se as atenções do problema real para um temor eventual. A opinião pública converte-se em terror coletivo à espera de que o governo como guardião da pátria, restaure a paz, o que pode ser feito facilmente com uma simples redução para a cor azul. A voz das massas é facilmente silenciada pelo medo.
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É também o medo que convence a todos a terem seus passos vigiados por câmeras permanentemente. Para garantir a segurança do povo, mais uma vez o governo barganha: alguns direitos fundamentais a menos, um pouco de segurança a mais. E, mais uma vez, muitos estão dispostos a pagar o preço.
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A troca é simples: o governo vigia as ruas para evitar pequenos furtos e a população se deixa vigiar. Passeatas, greves, manifestações, comícios, nada se esconde do olhar eletrônico do governo, que vigia a todos e identifica, um a um, aqueles que ameaçam seu poder com suas ações e discursos sediciosos. A democracia vende-se ao autoritarismo, à troca de privacidade por uma suposta segurança.
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É preciso que se entenda que a privacidade não é um mero direito de interese individual, mas uma garantia constitucional não só dos direitos políticos, mas da livre manifestação de pensamento.
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Tome-se, por exemplo, o direito fundamental do voto. Poderia ser ele exercido livremente, sem a privacidade de uma cabine eleitoral? De forma análoga, poderia o povo ir às ruas reivindicar seus direitos sob a vigilância de quem comanda a força repressiva estatal?
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Além do mais, resta outra questão: quem vigiaria os vigias? As câmeras operadas pela polícia, sob o comando do poder executivo, também filmariam eventuais abusos de autoridade ou atos de corrupção dos governantes? Ou, nesses casos, as gravações perder-se-iam dos olhares populares, seguindo a famigerada máxima de Ricúpero: "O que é bom a gente fatura, o que é ruim se esconde"?
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Um povo vigiado não é um povo livre e seu sorriso será sempre amarelo e subserviente a seu vigia. Um Estado Democrático de Direito não pode ser construído pr um povo pusilânime, que abdica de direitos fundamentais em prol de uma suposta segurança pública. O exercício da cidadania é um ato de coragem que requer antes de tudo o reconhecimento da importância dos direitos fundamentais, dentre os quais a privacidade, não como mero direito individual, mas como garantia do exercício de direitos políticos e da livre manifestação de pensamento.
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por Túlio Vianna

domingo, dezembro 02, 2007

Diálogos Construtivos

No filme O Falcão Maltês (The Maltese Falcon) - o primeiro filme noir da história do cinema -, um diálogo ente os personagens de Peter Lorre e Humphrey Bogart...
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Joel Cairo: Você me despreza, não é?
Sam Spade: Se eu pensasse em você, provavelmente o desprezaria.
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Instruções para Cantar

Comece por quebrar os espelhos de sua casa, deixe cair os braços, olhe vagamente a parede, esqueça. Cante uma nota só, escute por dentro. Se ouvir (mas isto acontecerá muito depois) algo como uma paisagem afundada no medo, com fogueiras entre as pedras, com silhuetas seminuas de cócoras, acho que estará bem encaminhado, e do mesmo modo se ouvir um rio por onde descem barcos pintados de amarelo e preto, se ouvir um gosto de pão, um tato de dedos, uma sombra de cavalo.
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Depois compre cadernos de solfejo e uma casaca e por favor não cante pelo nariz e deixe Schumann em paz.
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Manual de Instruções in Histórias de Cronópios e de Famas, de Julio Cortázar.
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