Qual é a sua?

segunda-feira, outubro 25, 2010

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Há momentos que não posso me visitar, que fico recolhida. Nem triste nem feliz. Uma serenidade capaz de entender o amor se não houvesse uma segunda-feira para dispersá-lo.
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terça-feira, outubro 19, 2010

Voltas na Quadra


Ninguém lê por obrigação. Ninguém vai procurar o que o autor pensa. Toda leitura é feita pela vaidade de se descobrir ou de se aniquilar. Sim, parece estranho, mas muita gente procura nas obras argumentos e pretextos para o seu pessimismo. O que seria da adolescência sem uma frase de Nietzsche para assustar definitivamente os pais? Da mesma forma, há outros leitores que procuram um livro como quem vai ao terapeuta. O terapeuta permanece calado toda consulta, o leitor é que fala. Não difere muito a situação. Não existe livro puro. Sempre que açguém folheia o recinto, já despeja sua vida de imediato. A facilidade também seduz. O livro ideal é aquele que diz tudo no título, a exemplo de "Como atingir o orgasmo em três toques", dispensando maiores compromissos. É mais fácil seguir as instruções de um livro de auto-ajuda com suas dicas maleáveis do que os dez mandamentos (não cobiçar a mulher ou o livro do próximo é praticamente impossível!). Para os esportistas literários, a leitura não é um destino, mas um desejo. Exercita-se os músculos da memória. É como um cooper contra o esquecimento. Três páginas lidas equivalem a uma volta na quadra. Queima-se alguma coisa, não sei se são as calorias. Imaginamos o enredo, os personagens, os versos com nossa cara. Personificamos a trama. Na verdade, o autor não existe, nem precisava existir. Em um poema com o título "Escrito num livro abandonado em viagem", Fernando Pessoa, poeta português dos maiores, se auto-exclui: "Fui, como ervas, e não me arrancaram". Afora toda piedade que emana de tal afirmação, ele tem razão ao comparar o escritor com a discrção das ervas. Planta tão modesta que não serve para ser jogada fora. Fica fazendo fundo na horta, no quintal ou nas beiras e eiras da calçada. Para quem acredita em libertação pela leitura, deve pensar melhor no sentido daquele lugar comum: o livro me prendeu, não conseguia parar. Livro prende, permanecemos seus reféns o resto dos dias. Descobre-se enfim, que a sabedoria não vem da erudição, do conhecimento acumulado, da decoreba e do catálogo telefônico de citações. Sabedoria acontece quando coincidimos o que lemos com o que vivemos.

Aviso de inutilidade pública

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De vez em quando, eu me isolo em algum lugar que não sou eu. Não sei se já sentiram algo parecido. É uma necessidade de não abrir a correspondência, de preservar segredos e confidências, de ficar absolutamente calada, de não se deixar levar pela ânsia de que tudo deve ser esclarecido. Minha mão é trêmula, há a escolta da outra que me ajuda a escrever. Sou ambidestra por falta de opção. É horrível quando se está quieta e a barriga começa a conspirar e procurar briga com o corpo. Isso costuma acontecer especialmente em reuniões. Senta-se de todo jeito na poltrona, mas o ronco parece decidido a chamar atenção. Olha-se para o lado e nunca sabemos ao certo se ele é audível fora do sangue. E a educação não me deixa perguntar. A poesia não mesalva do vexame de viver.
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quarta-feira, outubro 13, 2010

La media vuelta

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Sorriu. Deixou que ele abrisse o vinho. E, quando pôs o velho disco na vitrola, sabia o que fazia. Voltara a caminhar à beira do abismo. Cairia. Mas, dessa vez, conhecia os caminhos de voltar.
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10/10/10
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