Qual é a sua?

terça-feira, julho 27, 2010



Religião
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olhar para o alto,
tão alto que se tenha
um torcicolo eterno
e nunca mais se possa
olhar direto para o próximo.
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quinta-feira, julho 22, 2010

Aos amigos, os que eu morro de saudades

A base para qualquer relacionamento é confiança.

É bom ter alguém com quem você possa se abrir, alguém que não precisa de nenhum tipo de compromisso com você além de amizade.

Confiança é premissa nas amizades.

Ter amigos é uma dádiva. Ter pessoas que te ligam só pra saber se você está bem, pessoas que te chamam pra uma cerveja quando percebem (em duas palavras no MSN) que você não está legal, pessoas que até dão risada das suas piadas, por piores que elas sejam.

Existem os amigos virtuais, aqueles que você descarrega o mundo quando chega em casa bêbado no sábado à noite… Existem os amigos relapsos (eu me encaixo nesses) que por mais que não estejam constantemente presentes, são aqueles que você pode ligar pra pedir ajuda que eles movem o mundo só pra te ver feliz.

Eu sou uma pessoa muito feliz porque, por mais que não sejamos grudados, sempre que eu sento com qualquer um dos meus amigos, temos as melhores piores conversas do mundo… E cãimbra na mandíbula (se é que isso existe) só eles tem o poder de me dar. Eu mato e morro por eles.

Amo vocês!

domingo, julho 18, 2010

Sedução

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Estava escutando os versos de Itamar (Assumpção): "pensei em seduzir você, domesticando elefantes..."
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Fiquei pensando no ato de seduzir. A palavra é pesada para alguns, mas o sentido maior é encantar, convencer, provocar admiração, sensualizar.
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Cheguei à conclusão que seduzir é o oposto de impor. Não existe outra forma, em uma relação ou discussão, para mudar a posição de alguém: ou força ou sedução. Seduzir, então, é usar nossos recursos - retórica, argumentos, charme, criatividade, emoção - para fazer ver o que não está evidente de cara. Mesmo em temas ditos racionais, é a capacidade de surpreender, de ser enfático, que encerra realmente a discussão. Não há mudança de opinião que não passe pela emoção das pessoas.
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Seduzir é isso. Uma evolução antropológica, em que o mais forte não é mais o que tem o porrete maior, e sim aquele que toca mais fundo à imaginação e ao coração.
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quarta-feira, julho 14, 2010

Beauty Full

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Pra mim, Cortázar, algumas manhãs e algumas luas. Certas músicas associadas a certos momentos. Estar só e em paz. A risada de Melissa. O olhar de travessura de Khal-El. A sintonia das amizades. O amor de algumas pessoas pelo seu trabalho, a curiosidade. Tempo para jogar conversa fora.
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E pra você, o que é realmente lindo?
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segunda-feira, julho 12, 2010

Melancolia

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Inércia, taquicardia de chuva, noite de calor. Falta do que fazer, desinteresse pelo que se faz. Dúvida do que se quer, certeza de não querer o que se tem. Temor pelo que está por vir, medo de que nada aconteça. Meio de um filme ruim, final de um filme bom. Falta de assunto no elevador, conversa interminável ao telefone. Sono que não vem, despertador que toca às seis da manhã.
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Silêncio quando se está sozinho, barulho quando se quer ficar só. Medo de escuro, claridade que incomoda. Ônibus que demora a passar, viagem cansativa. Rua sem saída, sinal vermelho. Abstinência sexual, sexo com um estranho. Telefone que não toca, ligações de engano. Ninguém para conversar, visitas inconvenientes. Papel em branco, lápis sem ponta. Planos para o futuro, lembranças do passado. Paixão não correspondida, amor de quem não interessa. Saudade de quem está longe, ausência de quem está perto.
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sábado, julho 10, 2010

Falados, os segredos calam

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Incrível o poder de síntese dessa frase.
.Encontrei-a em meio aos versos de uma música da Marisa Monte. Imediatamente lembrei-me de outro verso, este de Milton Nascimento - "coisas que ficaram muito tempo por dizer / , nas canções do vento não se cansam de voar".
.Fiquei pensando no destino dos segredos não falados, eles não morrem, ficam rondando feito almas penadas, nunca se calam, não se resolvem.. Falta-lhes a claridade e o ar para serem consumidos e transformados no melhor nutriente das relações.
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terça-feira, julho 06, 2010

O Coquetel dos Gênios

E então, no meio daquele coquetel de inauguração de qualquer coisa, entre uma mulher que conta a novela e um homem que cita Peter Drucker*, fazendo o opossível para não ser visto pela grande senhora que há pouco o ameaçou com uma nova teoria de comunicação que traz escondida entre os seios, você procura alívio numa bandeja que passa. Confortai-me com canapés que desfaleço de banalidades.
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E pensar que aquela mesma espécie já dera tantos gênios. Compositores, pintores, escritores, pensadores... Se fosse possível reuní-los todos num imenso coquetel... que vitalidade! que brilho! principalmente, que conversa!
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Imaginemos que aqueles dois ali, em vez de serem um empresário notoriamente analfabeto e um político que fala português de anedota, fossem, digamos, Beethoven e Vincent van Gogh. Aproximemo-nos para ouvir o que dizem os gênios.
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Van Gogh aponta para um dos seus ouvidos.
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- Fala neste aqui que com o outro eu não escuto.
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E Beethoven:
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- Hein?
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- Fala no outro ouvido. Desse lado eu não escuto nada.
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- O quê?
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- Hein?
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- Como?
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- O outro ouvido! O outro ouvido!
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Está bem, não é um bom exemplo. O Picasso chegaria de bermudas, beliscando as mulheres. Também não serve. De repente bateriam à porta, o mordomo iria abrir e não veria ninguém. Fecharia a porta, intrigado, ouviria batidas outra vez, abriria de novo e então ouviria uma voz vindo de baixo:
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- Sou eu, seu filho de um cão sarnento com uma faxineira de Antuérpia!
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É Toulouse-Lautree, mal-humorado. Mais tarde Willian Faulkner, a caminho do seu décimo "bourbon", tropeçará nele e cairá ao comprido no tapete, aos pés de Oscar Wilde, que, girando seu absinto no copo, dirá:
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- Gosto de ter admiradores, mas isso é ridículo.
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- Aposto que eles ensaiaram isso antes - dirá Bernard Shaw para Sócrates, ao seu lado. Este olha com desconfiança para o copo que tem na mão.
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- O que será que estão me dando? - pergunta Sócrates.
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- Se não é scotch é porcaria - sentencia Shaw.
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- A última bebida que me deram era cicuta.
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O rosto de Shaw se ilumina com a deixa.
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- Cicuta, pra mim, é um veneno.
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Shaw sai de grupo em grupo para contar a própria frase, às gargalhadas, mas a repercussão não é boa. Kant e Vitor Hugo se desentenderam por alguma razão, trocaram insultos e o ambiente ficou pesado. E Wagner, martelando no piano com as duas mãos abertas, não está ajudando em nada. Beethoven é o único que não se incomoda. Van Gogh tapa uma orelha. Salvador Dali tapa os olhos para não ouvir.
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Ouve-se um grito de trás de uma porta fechada. A porta se abre e uma mulher seminua sai correndo. Minutos depois, pela mesma porta, aparece, ajeitando a gravata, o Marquês de Sade e explica:
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- Não é o que vocês estão pensando. Nós estávamos tendo uma discussão filosófica na cama e aí surgiu um hindu louco e puxou o lençol.
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Por trás do Marquês aparece Mahatma Ghandi, envolto no lençol e pedindo desculpas:
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- É que derramei Coca-Cola na minha outra roupa e...
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Hemingway, rodeado por simbolistas franceses e segurando o copo como uma granada, argumenta:
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- Eu (obscenidade) no leite do Simbolismo. Eu (obscenidade) no leite das proparoxítonas maricas.
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Aristóteles, que tem um copo de leite na mão, afasta-se prudentemente.
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Não, pensa você, mastigando um quadradinho de pão coberto com uma pasta vagamente marinha. Seria ótimo ouvir os gênios, mas um a um. Não num coquetel. Definitivamente, não num coquetel.
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*Economista austríaco, autor de livros revolucionários, sobre administração e gestão empresarial.
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