Qual é a sua?

domingo, dezembro 26, 2010

Com cópia em papel carbono

Identificaram os seguintes itens na memória de um homem de idade indefinida, morador solitário da Rua do Arvoredo, em letra datilografada numa Olivetti verde, com fita vermelha e preta. Uma por uma das peças e pequenos fósseis foram retirados de suas lembranças. Havia mais de cem pedras obstruindo a vesícula da memória.
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Kichute. Vinil. Creolina. Mimeógrafo. Placar. Corcel II. Carpim. Eslaque. Laquê. Bilboquê. Bambolê. Marcha no guidão. Groselha. Ki-suco. Vendedor de Mirador. Perdidos no espaço. Jeannie é um gênio. Elo Perdido. Terra de Gigantes. Daniel Boom. Figueroa. Túnel do Tempo. Fitipaldi. Pampa Safari. Escaler. 14 Bis. Secos e Molhados. Revista Manchete. Futebol cards. Bolita. Pegador de armazém. Balança de pinos. Sete belos. Funda. Sapato de bico. Boca de sino. Chacrina. Gretchen. Bolinha. Saramandaia. Irmãos Coragem. Bigode. Paulo César Pereio. Mad. Maricas. Dona Flor e seus dois maridos. Pink Floyd. Corneta do Rintintin. Lassie. Bolachas Maria. Guimba. Fralda de pano. Auxílio à lista. Dancin'Days. Discoteca. Meretriz. Sofá-cama. Beliche. Loção pós-barba. Ceasa. Herbie. Fusca. Opala. Ilha do paraíso. Love story. Nescau. Regina Duarte. Cruzeiro. Fiado. Lampião. Minancora. Babados. Mequetrefes. Grega. Abrigo Adidas. Balela. Disco. Caldo de cana. Mandiopã. Coelho Ricochete. Reunião dançante. Hanna & Barbera. Cueca virada. Bolinho de chuva. Pipoca com mel. Cuba libre. Cartilha. Caderno de caligrafia. Globo de espelhos. Supercine. Papel de parede. O céu é o limite. Jota Silvestre. Flavio Cavalcante. Escrava Isaura. Sobrancelhas raspadas. Peruca. Playmobil. Meias de lurex. Cuecão. Drive in. Polaroid. Santinhos. Corner. Pelota. Tiro de canto. Cinto para emagrecer. Pulseiras magnéticas. Magnésio. Cestas de natal. Caloi. Estação férrea. Prostíbulo. Curetagem. Sacristão. Coroinha. Felação. Arena. Venezianas. Vidro fumê. Óculos Ray Ban. Estilingue. Abluções. Chaco. Mercúrio Cromo. Panacéia. Casquinha. Amolador. Sal de frutas. Bolo inglês. Morfina.
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Mesmo lavrado em cartório, o homem precisou de um tradutor para dar sentido ao que recordava. Usava suspensório. Guardava a dentadura de alguém no copo de requeijão. O relógio da parede da cozinha não acompanhava o horário de verão, dando sinais de subversão. Uma cobiçada reprodução da Última Ceia estava fixada com durex no corredor azul. Muitos vocábulos saltavam sublinhados. Ele era um dicionário aleatório. Verbete sem sinônimo e esposa. Reduzido pela rua, se considerava perseguido pela língua, minoria nas palavras cruzadas. Suas fotos não tinham rascunhos. Não deixou herdeiros. As datas apareciam borradas. Costumes foram umedecendo no papel de presente dos cadernos e do fundo das gavetas. Era o que não voltou. Tudo o que escrevia fazia em papel carbono. Ele se dizia consumido.

2 comentários:

Sotnas disse...

Olá André e Monalisa, Necesidade Premente, desejo que tudo esteja bem com vocês, sempre!
Verdadeiras relíquias encontradas na mente deste solitário, relíquias de felicidade, ou de momentos felizes, também tenho algumas dessas relíquias, e tenho até uma Olivetti verde, e com fita vermelha e preta, e não recordo bem qual, mas há um tipo que deve ser premido com um pouco mais de força para uma boa impressão! Interessante é que cada qual, ao seu modo soube ser, e foi feliz, ou, teve seus momentos felizes em sua existência!
Como podem ver, retornei aqui e continuo deveras contente com os textos que aqui leio, e sendo assim creio que minhas visitas se tornarão uma viciosa freqüência. Desejo pra vocês e todos ao redor iluminada existência recheada de felicidades também no próximo período de trezentos e sessenta e cinco dias que surge lentamente no horizonte deste incontrolável tempo! E também meus sinceros agradecimentos a retribuição de minha visita, muito me acrescenta a visita de cérebros tão pensadores! Gente! Boas Festas e com certeza até mais!

Sotnas disse...

Ah! Pessoal, faltaram encontrarem, Caloi dobrável, uma Monareta, e uma Monark!
E esse sujeito não era tão antigo, pois não tinha aquele bendito brinquedo que acabou deixando tantos com o pulso estragado e os dedos inchados. Caso não esteja eu enganado o nome era bate-bola eram duas bolas do tamanho da gigante na bolinha de gude, presas cada uma, em uma fina cordinha de nylon que ficavam batendo para cima e para baixo, se uma bolinha passava pela outra sem se trombarem era dor na certa! Claro talvez por causar dor ele tenha deletado esta dos momentos felizes! Tchau!

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