O que ela quer é falar de amor. Fazer cafuné, comprar presente, reservar
hotel pra viagem, olhar estrela sem ter o que dizer. Quer tomar vinho e
olhar nos olhos. Ela quer poder soprar o que mora dentro, o que não
cabe, que voa inocente e suicida. Ela quer o que não tem nome. Quer rir
sem saber de quê, passar horas sem notar, quer o silêncio e a falação.
Ela quer bobagem. Quer o que não serve pra nada. Quer o desejo, que é
menos comportado que a vontade. Ela quer o imprevisto, a surpresa, o
coração disparado, o medo de ser bom. Quer música, barulho de e-mail na
caixa, telefone tocando. Ela tem muito e quer mais. Quer sempre. Quer se
cobrir de eternidade, quer o oxigênio do risco pra ficar sempre menina.
Ela quer tremer as pernas, beijo no ponto de ônibus e a milésima
primeira vez. Quer cor e som, lembrança de ontem, sorriso no canto da
boca. Ela quer dar bandeira. Quer a alegria besta de quem não tem juízo.
O que ela quer é tão simples. Só que ela não é desse mundo.